Nova natureza: abordagens do mundo das plantas e dos animais na literatura de língua alemã
No mínimo desde 1721, quando o senador hamburguense Barthold Hinrich Brockes publicou o primeiro volume do seu Irdisches Vergnügen in Gott (Prazer terrestre em Deus), a natureza tem sido um assunto constante da literatura alemã. No Classicismo e Romantismo, Biedermeier e Realismo, nas vanguardas e no pós-guerra: observar as plantas e os animais e formular a experiência com a natureza em prosa e verso foi um aspeto relevante até para autores cujo interesse principal eram a política e as relações sociais. Evidentemente, a natureza foi tematizada de forma distinta, de acordo com os discursos da época e as intenções dos autores. É, por exemplo, notável como a floresta se torna um alvo do desejo dos românticos ou como os animais servem de alegoria, para a alienação humana em Kafka. Na literatura contemporânea, um novo interesse surgiu no contexto do movimento ambiental dos anos 1970 e, até hoje, essa abordagem sociopolítica não pode ser considerada concluída. Nessa esteira, a natureza também se tornou um meio para a construção do sublime em autores como Peter Handke, Botho Strauss, Christoph Ransmayr e Raoul Schrott. Nos últimos anos, porém, nota-se algo distinto, um olhar sobre a natureza como um valor em si que merece atenção além das suas funções para o ser humano. Sinais dessa nova conjuntura podem ser vistos nos prêmios para o poeta Jan Wagner (Büchnerpreis 2017) e o sucesso de Judith Schalansky, autora de um romance tecido por completo com informações biológicas (Der Hals der Giraffe, 2013) e editora de uma série dedicada exclusivamente a livros sobre espécies e biótopos específicos.
Na seção serão estudadas a fenomenologia e as funções da representação da natureza em obras de língua alemã, com ênfase especial na contemporânea.
Helmut Galle (USP) hgalle@usp.br
Valéria S. Pereira (UFMG) valeriasabrinap@gmail.com